Mari Goé
Confiram entrevista exclusiva com os veteranos do death/grindcore Hierarchical Punishment
Com quase 3 décadas de estrada, uma das bandas veteranas de death/grindcore Hierarquical Punishment lança seu novo trabalho "Psychotic Desorders”! E quem contou com mais detalhes sobre a banda, composições e sobre o novo trabalho foi o Luiz Carlos Louzada. baterista da banda. Confiram como foi o papo!

Em 2022 o Hierarchical Punishment completa 28 anos de carreira. Conte-nos como é lutar por quase três décadas no underground e o que mudou de lá pra cá na cena para a banda?
Luiz Carlos Louzada – É gratificante fazer parte de uma banda com tanto tempo de estrada, pois significa que todos os percalços que surgiram foram superados, e continuamos trabalhando intensamente visando manter uma regularidade de lançamentos que envolvem nossa trajetória na cena underground. Hoje em dia, nos adaptamos ao novo formato de trabalhar a divulgação da banda, principalmente espalhando nossas músicas na internet, oferecendo em plataformas de streaming, a chance dos fãs de música extrema, terem acesso ao nosso material, independente de que parte do planeta a pessoa esteja. Antes, nos esforçávamos muito para enviar materiais físicos contendo nossa música, e isso significava gastar bastante com despesas postais. Não que isso tenha mudado hoje em dia (enviar discos com nossas musicas), já que os custos de se enviar 1 simples cd, custa “os olhos da cara”... Mas felizmente, ainda existem colecionadores que valorizam lançamentos físicos.
Qual o processo de composição da banda? Existe alguém especificamente responsável pelas letras e/ou pelos arranjos ou cada um contribui livremente?
LCL - Durante os muitos anos de banda, sempre foi normal haver contribuição de músicos que passaram pelo Hierarchical, seja nas letras ou músicas. A partir de 2015, o Grell (fundador, e guitarrista da banda) assumiu totalmente as composições (letras e músicas), mas atualmente, com o time que temos, já estamos trabalhando em idéias que o Paulo Alexandre (também guitarrista) vem apresentando. Como estamos ensaiando o material que fará parte de nosso 4º álbum oficial, teremos material escrito por ambos guitarristas e garanto que os riffs continuam poderosos e pesadíssimos!
Vamos falar sobre o álbum "Psychotic Desorders”, como foi o processo de idealização, gravação e produção do disco?
LCL – Após lançarmos nosso 1º álbum “The Humanity Walks This Way”, em 2014, depois de uma longa jornada (tendo em vista que a mixagem foi concluída em 2006), estávamos já com uma formação diferente, e novas idéias para trabalhar no 2º álbum. Foi quando o Grell se submeteu à uma cirurgia na coluna que o impediu de seguir como baterista da banda, posto que ele ocupava desde a formação do grupo em 1994. Na ocasião, brecamos os compromissos e ficamos aguardando a recuperação dele, até porque cogitou-se deixar o grupo em “stand-by”. Nessa época, o Grell passou a estudar guitarra, e eu, que até então era o vocalista, me ofereci para assumir o lugar dele na bateria (já que eu sempre toquei batera em outros grupos). Foi quando ele se sentiu seguro em apresentar suas músicas novas e logo retomamos os ensaios para colocar isso em prática, e então, gravamos o material que fez parte do split-cd “Burning the Tyranny” (que lançamos com os grupos peia Braba e Pigstein) em 2015 mesmo. A partir de toda essa experiência de vida, o Grell passou a escrever sobre temas ligados à depressão, síndrome do pânico, crises de ansiedade, “colocando pra fora” o que ele mesmo convivia. Foi essa a “base” do nosso 3º álbum “Psychotic Disorders”, já que nosso 2º álbum oficial, foi uma “amostra” do line-up de 2017 e que tambem trazia gravações que não constavam em cd oficialmente, além de uma parte “ao vivo” (que gravamos no show de lançamento do split-cd “Burning the Tyranny”, quando tocamos ao lado dos mexicanos do Heretic, que estavam em tour pelo brasil na época). A produção do “Psychotic Disorders” foi um pouco lenta, pois fizemos tudo de forma independente, contando com auxílio de amigos, com boa parte do álbum sendo gravado em home-studio, mas para que o resultado final fosse matador, contamos com a mixagem e masterização do veterano técnico de som Ivan Pellicciotti, do Estúdio O Beco (de Curitiba/PR), que é um amigo de longa data, onde inclusive, na época que ele ainda residia em Santos/SP (nossa cidade), já havíamos feito outras gravações e, como ele mesmo havia feito a captação da bateria do “Psychotic Disorders”, antes de mudar de Estado, foi legal concluir o processo com ele. Outro grande artista que tivemos a honra de ter vinculado ao nosso álbum, foi o ilustrador Bruno Bacchiega (vocalista da banda Invokaos, de Diadema/SP) que fez a arte de capa e nosso álbum. Anteriormente, ele havia contribuído com a ilustração que usamos no “Madness”, single de 2019 que lançamos em nosso Bandcamp oficial, e que no período de 2020 (quando a pandemia nos forçou a ficar enclausurados em casa, sem vacinas/ensaios), acabou se tornando um “álbum virtual”, pois como “presente” aos fãs de música extrema, fomos incluindo 1 música bônus por mês, material este, que fez parte da pré-produção que fizemos no Dakota Estúdio, com a formação que estava fixa quando extourou a pandemia mundial.
Como tem sido a repercussão do álbum tanto por parte da crítica quanto por parte do público?
LCL – Antes mesmo de lançarmos este álbum, sabíamos que era o melhor trabalho gravado pela banda, não só pelas músicas, que trazia um lado mais trampado e ao mesmo tempo, mais brutal, mas o cuidado que tivemos com a parte de áudio, refletia que poderíamos “chegar junto” de qualquer lançamento de banda gringa. E falando em divulgação, uma coisa que ajudou bastante, foi fecharmos com o Dhiego Rodrigues, da L.B.N Assessoria, que vem trabalhando com a gente ativamente na promoção deste álbum. Optamos por lançar o disco na internet, antes das cópias físicas chegarem no mercado (os cds chegaram nas distribuidoras em maio/2021), e também trabalhamos com 3 singles oficias através do Youtube (fizemos 1 visualizer-video, depois 1 lyric-video e, por último, fizemos 1 playthrough-video). Neste ano de 2022, incluímos 1 música no cd “Cangaço Rádio Rock Vol. II”, que é o mais recente lançamento de nossa discografia oficial. Foi bacana ver o “quanto passaram a falar da banda” a partir deste álbum, sendo que no 2º álbum, “The Choice” (de 2017) amarramos uma extensa tour de divulgação, passando por muitas cidades onde nunca havíamos tocado antes, inclusive fora do Estado de SP e, mesmo com um ótimo vídeo-clip que lançamos em 2018, não tivemos tanto respaldo na mídia underground especializada (o que foi “corrigido”, quando tomamos a decisão de fechar com uam empresa que desse esse suporte de mídia).
Quais as principais diferenças de Psychotic Desorders para os álbuns anteriores?
LCL – Creio que o amadurecimento musical, junto com uma boa produção de áudio, onde a mixagem deixou tudo nítido, com bastante espaço para o peso se sobressair, e nos andamentos rápidos, o som não “embolar” acaba funcionando 100% a nosso favor.
Quais são suas principais influências atualmente? Vocês têm planos de experimentar novas sonoridades no futuro?
LCL – Cada integrante possui seu próprio gosto musical e é na hora de executar nossas músicas, que essa “mescla” de diferentes influencias, torna o som poderoso, onde cada um dá o melhor de si no seu desempenho. Mas poderia dizer que algumas bandas “clássicas” do som extremo, acabam sendo referência, como Terrorizer, Napalm Death, Agathocles, Cannibal Corpse, Doom, etc... Por muitos anos, nosso som mesclava Grindcore com toques Death Metal, mas de uns anos para cá, nos encaixamos muito mais dentro do cenário Death Metal, sem abrir mão de passagens Grindcore. Enfim, sendo extremo, tá bom!
Qual tem sido a relação da banda com os fãs, de maneira geral? Existe alguma dificuldade de divulgação hoje em dia, ou as novas tecnologias e redes sociais facilitam a divulgação do trabalho do artista e o contato direto com os fãs?
LCL – Mantemos contato diretamente com as pessoas que nos enviam mensagens via redes sociais; todos nós temos nossos próprios perfis na internet (seja no facebook ou instagram, que são os mais utilizados). Até 20 anos atrás, o contato era mais complicado, já que o pessoal da banda não tinha muito tempo para se dedicar em ficar mantendo contatos via correios, mas na década de 2000 com o grande uso de e-mails e Orkut, as coisas melhoraram, tanto que nossa discografia deslanchou a partir de 2001, pois passamos a lançar materiais contendo nossas músicas, em boa parte, por conta de ótimos contatos que surgiram graças à internet. Quem puder conferir nosso site oficial (www.hpgrind.com.br) consta na seção “discografia” os 28 lançamentos que realizamos, em 28 anos de banda.
O Hierarchical Punishment é uma das principais bandas do cenário Death Metal e Grindcore de São Paulo e, por que não, do Brasil. Como vocês veem o atual momento do gênero no país?
LCL – O Brasil é muito conhecido por ser um “celeiro” de bandas extremas. Com as várias turnês que já realizei com o Vulcano (onde sou vocalista), esse é o tipo de comentário que mais ouço, por parte de fãs que chegam para trocar ideia e comentar sobre o que conhecem de nossos grupos. E é impressionante a quantidade de bandas nacionais, dos mais variados Estados, que conseguem projeção lá fora, e na maioria das vezes, estas mesmas bandas não conseguem sair do país e se apresentar na Europa, por exemplo, tendo em vista o alto investimento financeiro que isso demanda. Mas o reconhecimento existe. Isso é importantíssimo afirmar. Então, como acompanho nosso cenário há décadas, sou suspeito para falar sobre a cena do Brasil, já que tenho a Violent Records há 18 anos, e com mais de 80 albuns já lançados em cd, talvez uns 95% do catálogo são de grupos brasileiros.
Há planos de algo especial a ser lançado em comemoração aos 28 anos de banda?
LCL – Especificamente “comemorativo”, não temos nada em mente, pois como nosso 3º álbum saiu há apenas 1 ano, ainda estamos divulgando ele (principalmente, porque nem tivemos uma tour elaborada em cima deste cd, já que os shows começaram a ficar mais regulares aqui no país, há mais ou menos uns 3 ou 4 meses). Só que como citei antes, nosso empenho está na produção do 4º álbum, cujas músicas estão matadoras, só que o Hierarchical sendo uma banda na pegada “do it yourself”, nós vamos arcar com todas as despesas, desde a pré-produção, até a finalização na fábrica (sendo que nessa parte do processo, é onde fechamos parcerias de distribuição e rateamos entre os envolvidos, os custos de prensagem).
Quais são os planos futuros da banda? Quando podemos ver a máquina de Death/Grindcore do Hierarchical Punishment na estrada novamente?
LCL – De imediato, temos vontade de investir num novo videoclipe para gerar conteúdo em nosso canal no Youtube visando crescer as inscrições e atingir mais fãs de música extrema, mas o fato de termos optado em não perder mais tempo, e já cair de cabeça na produção do 4º álbum, nos tirou um pouco a necessidade de cair na estrada, divulgando o “Psychotic Disorders”, ainda mais levando em conta que o grande dilema sempre é: gastar com estúdio (onde a gente faz a pré-produção, e também realizamos captação de gravação) ou bancar custos de turnê (levando em conta que não somos uma banda que “mudou de patamar”, que é o tipo de banda que no “pior dos cenários” empata os gastos)? Desde o lançamento do nosso 3º álbum, ficamos divididos entre produzir material novo, ou ficar mantendo a banda ensaiada na espera do retorno aos shows. Chegamos inclusive a divulgar nosso nome num evento no litoral norte de SP, ao lado de ótimas bandas (agendado no início de 2022), e que no final das contas acabaria sendo nosso “show de lançamento atrasado” do “Psychotic Disorders”, mas 10 dias antes do evento, 1 de nossos integrantes informou que um parente muito próximo estava com Covid e, como viajaríamos os 5 no mesmo carro, achamos mais seguro, cancelar nossa apresentação, do que correr o risco de todos serem infectados. Na dúvida, optamos pelo bom senso e segurança.
Hierarchical Punishment, muito obrigado pela entrevista! Sinta-se à vontade para deixar algumas palavras para os fãs.
LCL – Agradecemos a oportunidade de poder compartilhar informações sobre nossa banda; é super importante o apoio de canais de divulgação e somos gratos à todos que acompanharam esse bate-papo. Convido os fãs de música extrema a procurarem na internet o som do Hierarchical Punishment (basta dar um “google”) e sintam-se à vontade para nos enviar mensagens. Quem curte colecionar cds, dá para achar nossos discos, splits e até mesmo as várias coletâneas que sempre tivemos grande satisfação em fazer parte, em muitas distribuidoras de material underground (e normalmente, a preços muito justos). Novamente o “google” acaba sendo a melhor forma de encontrar nossos materiais. Forte abraço a todos!
Acompanhem a banda nas redes e plataformas: https://bit.ly/3FLZpvh